domingo, 1 de março de 2009




Eugenio Montale

Forse un mattino andando in un’aria di vetro...

Talvez uma manhã andando em ar de vidro,
árido, voltando-me, verei cumprir-se o milagre:
o nada a minhas pés, o vazio detrás
de mim, com um terror de ébrio.

Depois, como num quadro, acamparão de chofre
árvores casas colinas, para o engano costumeiro.
Mas eis que será tarde: e eu andarei mudo,
entre os homens que não se voltam, com meu segredo.

A propósito desse poema de Eugenio Montale, escreveu Ítalo Calvino: “O ar-vidro é o verdadeiro elemento dessa poesia, e a cidade mental em que a situo é uma cidade de vidro que se faz diáfana até desaparecer. É a determinação do meio que desemboca no sentido do nada (enquanto em Leopardi é a deterinação que atinge o mesmo efeito). Ou, para ser mais preciso, existe um sentido de suspensão, do ‘Talvez certa manhã’ inicial, que não é indeterminação mas equil[íbrio atento, ‘andando em ar de vidro’, quase caminhando pelo ar, no ar, no frágil vidro do ar, na luz fria da manhã, até que não nos damos conta de estar suspensos no vazio” (...).”

CALVINO, I. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras. 2007. p. 223.

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