quarta-feira, 13 de maio de 2009


O sol se põe em São Paulo...

Comecei o primeiro capítulo de O sol se põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho (Companhia das Letras) com boa vontade e aguardei um prosseguimento interessante. Sobretudo quando, no fecho do capítulo, o narrador nota “uma pequena medalha onde estavam gravados dois ideogramas mínimos, que o movimento natural do braço a arregaçar ligeiramente o punho de seda descobriu”. Com uma frase assim pensei que o romance se armaria como Italo Calvino escreveu, idealizando uma imagem carregada de significado, numa das etapas do processo imaginativo “que parte da imagem à expressão verbal”. Nada disso acontece. Logo no segundo capítulo penetramos numa espécie de roteiro digno de novela das 8, ao qual não faltam ingredientes de um pastiche japonês: as freqüentes alusões ao suicídio, incidentes que tentam lembrar Mishima (mas cujos personagens não têm, nem de longe, a força daqueles do romancista japonês), cansativas menções de ruas de cidades japonesas, descrições de templos, alusões ao teatro nipônico e, óbvio, referências ao Genji Monogatari, monumento fundador da literatura japonesa. (Diga-se de passagem que o livro foi publicado em plena comemoração da emigração japonesa no Brasil.)
Diremos do livro o que Ortega y Gasset comentou sobre uma certa arte nova: “Das obras jovens procurei extrair sua intenção, que é o substancioso, e não me preocupei com a sua realização. Quem sabe o que dará esse nascente estilo? A empresa que acomete é fabulosa – quer criar do nada. Eu espero que mais adiante se contente com menos e acerte mais”.

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