quarta-feira, 3 de junho de 2009

Márcio Moreira Alves
(para as novas gerações)

Há mais de 40 anos, um dos mais brilhantes e destemidos jornalistas brasileiros, Márcio Moreira Alves, recentemente falecido, escreveu o livro Torturadores e torturados, após ter investigado o processo repressivo desencadeado pelo Golpe de 64. Márcio – ou Marcito como era conhecido pelos mais próximos – não era comunista. Nascera de famílias da burguesia mineiro-carioca, mas logo se posicionou contra a ditadura militar, durante a qual as torturas e os ‘desaparecimentos’ foram moeda corrente. Desse pequeno texto do primeiro grande libelo da época contra as violações dos direitos humanos em nosso país podemos avaliar sua inteligência e sua coragem cívica:

"O processo das torturas é também o processo da sociedade brasileira. Quando mais intensas eram as notícias dos maus tratos infligidos aos que superpovoavam nossas prisões, uma senhora católica, possuidora do que se convenciona chamar de “boa educação” e, pessoalmente, bastante generosa, disse-me: “está na hora de taparmos os ouvidos, calarmos a boca e fecharmos os olhos e deixarmos que eles acabem com os comunistas”. Não percebia ela a indignidade de suas palavras, Mas, em uma frase, sintetizou o pensamento das classes dominantes, prontas a compactuar com atrocidades a fim de preservar a aparente paz em que vive e, sobretudo, os imensos privilégios e poder de que dispõe. Não creio que uma sociedade que traga em seu cerne a desumanidade tenha condições de sobreviver. Sua única possibilidade de regeneração — e esta possibilidade existe e nos dá esperanças no Brasil — é negativa: o isolamento completo face a sua própria juventude. A nova geração das elites brasileiras — elites culturais, embora também econômicas em virtude do sistema educacional antidemocrático que temos — deu e continua a dar reiteradas demonstrações de oposição à velha classe atualmente no poder."

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