segunda-feira, 29 de junho de 2009


Mario Benedetti
(1920-2009)

A livraria do shopping Punta Carretas exibe um cartaz com a foto e um poema de Mario Benedetti (que abaixo transcrevemos), cujo último livro, Andamios (Andaimes) é uma espécie de ficção autobiográfica de um ‘desexiliado’, como aqui são chamados os ex-exilados políticos. Mario Benedtti foi um deles. “Para sempre no coração dos uruguaios”, reza o cartaz. Ironia dos tempos, o shopping de Punta Carretas era um cárcere famoso, de onde fugiram em 1971 os 111 tupamaros, entre eles Pepe Mujica, que nas eleições de ontem firmou seu nome como possível futuro presidente do Uruguai. Mujica foi barbaramente torturado e passou 14 anos na prisão, alguns deles dentro de um poço, no mais absoluto isolamento.
Em Andamios, há uma épigrafe de Fernando Pessoa: “O lugar a que se volta é sempre outro/A gare a que se volta é outra,/Já não está a mesma gente, nem a mesma luz,/nem a mesma filosofia”.
Pergunto-me por que o Uruguai, com apenas 3 milhões de habitantes, menos da metade da população de Pernambuco, pode ter uma literatura tão rica e poderosa. E concluo que na grande literatura nunca haverá lugar nem para o medo, nem para a subserviência, nem para a covardia...
Pasatiempo

Mario Benedetti

Cuando éramos niños
los viejos tenían como treinta
un charco era un océano
la muerte lisa y llana
no existía
luego cuando muchachos
los viejos eran gente de cuarenta
un estanque era océano
la muerte solamente
una palabra

ya cuando nos casamos
los ancianos estaban en cincuenta
un lago era un océano
la muerte era la muerte
de los otros
ahora veteranos
ya le dimos alcance a la verdad
el océano es por fin el océano
pero la muerte empieza a ser
la nuestra.
(Inventario Uno)
___

Um comentário:

nando disse...

A comparação Uruguai / Pernambuco na forma como você coloca realmente machuca o peito.
Esse poema... Eita, dor funda que chega me fez chorar!
Obrigado.