segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sou mais Maradona...

Não entendo de futebol, mas gosto dos comentários de Ralf Carvalho. Digo-me que se os críticos escrevessem sobre literatura como ele fala de futebol nossa vida literária teria outro encanto. Não entendo de futebol, mas não gosto de Pelé: prefiro Maradona. Ao lado dele, Dunga parece um gerente de banco; do mesmo jeito que Pelé sugere um executivo a fazer o marketing de si mesmo. Se futebol é paixão, nada melhor do que o tango para traduzi-la
em passes de beleza e desespero. Que importa se Maradona transmite a desgraça e rói as unhas nos cantos do gramado? É assim que ele vai se tornando personagem de tragédia, como o foi Garrincha, certamente o mais brasileiro de todos os jogadores. Não entendo de futebol, mas prefiro o futebol arte àquele pensado pelos Franz Beckenbauer, jogado como partidas virtuais, arquiteturas de gráficos e cronômetros. Quando vi Maradona no seu desespero, veio-me a imagem fugaz de um touro se arremessando contra as traves, um bólido azul-celeste dominando a geométrica verdura, onde só ele parecia ter o domínio e a maestria. Maradona é a tragédia do Che gravada no braço; Pelé, o Brasil do “ame-o ou deixe-o” dos anos 70. Mesmo torcendo pelo Brasil, sou mais Maradona...
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Um comentário:

heliojesuino disse...

Caro Everardo

Concordo com vc. Entre Dioniso e Apolo, fico sempre com o primeiro apesar (ou por causa ...) da carga trágica inerente aos dessa linhagem.
Tivesse nascido no Brasil, Maradona certamente teria jogado no meu Botafogo, casa de loucos geniais como Garrincha, Heleno de Freitas, Dinorá e tantos outros.
Gente que jogava bola com uma paixão anarquizante e incompatível com a caretice burocrática imposta pelos ‘estrategistas’ do tal futebol de resultados que os atletas-de-cristo tão bem assimilaram.
Hoje em dia, jogadores como aqueles, com o diabo no corpo, são exorcizados antes de entrar em campo.
Abraços