terça-feira, 2 de março de 2010


Memória

Carlos Montemayor (1947-2010)

Estou aqui, nesta casa, a sós.
Aqui estão os móveis, o ar, ruídos.
Tenho um sentimento tão transparente
como o vidro de uma janela.
É como a janela em que olhava a neve ao amanhecer,
há muitos anos, quando menino,
e colava a cara contra o cristal e compreendia toda a vida.
É um desejo em calma, como a tarde.
É estar como estão todas as coisas.
Ter meu lugar como tudo o que está na casa.
Perdurar o tempo que for, como as coisas.
Não ser mais nem melhor que elas.
Somente ser, em meio à vida,
parte do silêncio de todas as coisas.

(Estoy aquí, en la casa, a solas./Aquí están los muebles, el aire, los ruidos./Tengo un sentimiento tan transparentecomo el vidrio de una ventana./Es como la ventana en que miraba la nieve al amanecer,/hace muchos años, cuando era niño,/y pegaba la cara contra el cristal y comprendía toda la vida./Es un deseo en calma, como la tarde./Es estar como están todas las cosas./Tener mi sitio como todo lo que está en la casa./Perdurar el tiempo que sea, como las cosas./No ser más ni mejor que ellas./Sólo ser, en medio de la mi vida,/parte del silencio de todas las cosas.)
***

P.S. Recebemos, hoje, comunicado de nosso amigo e poeta peruano, Odi Gonzalez, informando a morte de Carlos Montemayor, importante intelectual mexicano. Traduzi um de seus belos poemas, Memoria, pequena homenagem àquele que foi defensor intransigente da causa dos oprimidos, em particular dos povos indígenas de seu país. Na foto, à esquerda Carlos Montemayor, à direita, Odi Gonzalez.
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