domingo, 9 de maio de 2010


A opinião de Ricardo Reis...



Entre os textos surgidos do debate teórico entre Álvaro de Campos e Ricardo Reis, dois dos heterônimos de Fernando Pessoa, encontra-se esta passagem, bem contemporânea, como quase tudo que saiu da pena do grande poeta:

“Quanto mais fria a poesia, mais verdadeira. A emoção não deve entrar na poesia senão como elemento dispositivo do ritmo, que é a sobrevivência longínqua da música no verso. E esse ritmo, quando é perfeito, deve antes surgir da ideia que da palavra. Uma ideia perfeitamente concebida é rítmica em si mesma; as palavras em que perfeitamente se diga não têm poder para a apoucar. Podem ser duras e frias: não pesa – são as únicas e por isso as melhores. E, sendo as melhores, são as mais belas.
De nada serve o simples ritmo das palavras se não têm ideias. Não há nomes belos, senão pela evocação que os torna nomes. Embalar-se alguém com os nomes próprios de Milton é justo se se conhece o que exprimem, absurdo se se ignora, não havendo mais que um sono do entendimento, de que as palavras são o torpor.”


(in Pessoa, F., Obras, vol II. Porto: Lello & Irmãos Editores. 1986. p.1075.)
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