quinta-feira, 15 de julho de 2010


Memórias, memórias...

No ensaio intitulado L’amour en retrait, Valeria Piazza evoca o diário de Hanna Arendt e a correspondência da filósofa com Heidegger, para tratar sobre a maneira como um autor se manifesta em duas modalidades de escrita: a correspondência e o diário. Valendo-se de textos de Walter BenjaminValeria Piazza registra que o diário “não é alguma coisa que chega ao eu que vive”, mas é com o diário que “a experiência sai do mundo dos fatos e acede à língua, inaugurando uma nova dimensão” onde o eu deixa de ser prisioneiro no mundo dos acontecimentos, tornando-se ele próprio ‘rayon du temps’, pura temporalidade.
Escrito nos limites dos gêneros, quando prosa poética mescla-se a fragmentos de diário, certos livros enfeixam-se na frase de Benjamin, citada por Valeria Piazza: “livro insondável de uma vida jamais vivida”. É quando estamos diante de uma escrita na qual os 'diários' ou as 'memórias' são também  ficção e experiências que 'acedem à lingua’. Quanto são assim?...

(AGAMBEN e PIZZA V.: L’ombre de l’amour – le concept d’amour chez Heidegger. Paris : Payot Rivages. 2003)
Ilustração de Braque.

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