quarta-feira, 21 de dezembro de 2011



Rumo ao feio 2

Ouvi num programa de rádio a voz de uma responsável da prefeitura anunciar que não devemos dar esmolas aos pedintes de rua. Segundo ela, todos os que vivem nas calçadas são conhecidos, há estatísticas sobre isso, um programa para que todos regressem à família.
Até parece que não vivemos na mesma cidade. Na minha, a maioria dessas pessoas, muitas delas adolescentes, não têm pai ou mãe. Ou, quando os têm, são meras figuras de retórica. Muitas dessas mães – quando existem – são levadas à prostituição ou ao tráfico de drogas e às vezes neles introduzem os próprios filhos.
Pensar que a volta à família (que família?) resolve a questão é ignorância ou descaso. Onde moro, crianças perambulam pela rua e não tenho conhecimento de qualquer lugar decente onde menores pedintes ou delinquentes são acolhidos, como nas colônias de Makarenko. O que acontece, na maioria das vezes, é que o regresso à “família” significa permanecer no submundo do crime e morrer antes dos vinte.
A responsável da prefeitura também parece não saber – embora as estatísticas confirmem – que hoje em dia um imenso número de mães tiveram filhos antes dos quinze. Crianças parindo crianças.  
Ouvir tanta tolice de alguém que se diz representante de um órgão público e fala com tanta convicção do que não sabe não resulta apenas em tolice. Em casos como este, tolice também mata.

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